quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

Minha tacada perfeita está me procurando. Não preciso fazer nada, apenas fixar meu olhar no infinito e permitir que ela se aproxime. Perfeita harmonia entre tempo, espaço, força, tração, visão, capacidade. Contramão do que tenho feito, na ânsia de acertar, ser perfeita, satisfazer os caprichos alheios. Na corrida sôfrega e trôpega por colocar sentimentos honestos e verdadeiros numa bandeja que pode ser alcançada por qualquer um. Ao desfrute e saciedade de quem quer que seja. Paro, permitindo a brisa fresca com cheiro de folhas e garoa limparem meu rosto. Sinto uma crescente alegria, que vem em pequenas mas insistentes doses doces. Noto uma sonoridade nova, única, emocionante expandindo em meu peito. A sensação de encontro comigo mesma, estranha mas gratificante, brotando interminável por poros que nunca soube existir. Intermitente mudança. Rastro generoso que traz verdades absolutas. Abro meus braços, posto que não devo avançar sobre ela. Que está chegando. Encontrando esta que vê-se pronta. E minha bela e certeira tacada, que há tanto buscava-me, entra e aconchega-se em meus braços, sentindo o calor com que é recebida. Permite que a toque e transmita minha vida através dos meus dedos. Finalmente o encontro esperado, toda dor e dúvida esvaindo, num gerúndio. E o que resta, junto ao burburinho da paisagem, é a leveza de olhar-me com todo afeto e descobrir-me meu verdadeiro amor.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

Minha atual dificuldade é compreender como é regido o coração que vive dentro do meu. Sinto o calor do sentimento mas a frieza da atitude. Não consigo formular pensamentos adequados. 
Se trazer à tona sentimentos que esqueci, abdiquei, desisti, faz com que o choro, a dor e minhas entranhas sofram de novo, relembro o motivo de tê-los aprisionado em masmorra. 
Minhas intensidades travam a garganta. As sensações gritam enquanto latejam. As vontades ralam meus joelhos em asfalto quente. Sangro fora, dentro, no entorno. Lavo de lágrimas minhas mazelas, salgando o que deveria permanecer doce.
Peço inquieta e silenciosa, rogando um pouco daquilo que sonhei. Vejo pela fenda estreita. Pisco líquido saltitante. Ardor nas narinas que o tempo todo assoo. Chamo de meu o que desconheço pertencer a mim. 
Ousadia ou soberba, parafernália na minha vida, resolva o ciúme, a posse. Compreenda opções, opiniões e certezas. Pare o questionamento intransigente. Desnecessário, doloroso, cruel. 
Entregue o interior, a mente. Suas forças, pensamentos. Desejos, vontades. Dê-se inteiro, abuse da largura e comprimento, venha sem medidas. E permita o fim dessa angústia e o começo de toda alegria.
Desorientada neste momento
Nos passados também
Com coisas no pensamento
Gritos dentro de mim advém
Sufocados mantenho 
Na garganta me doem
Não compreendo a existência
Ignoro porquês
Salto pelas costas em sonho
Das horas que poderiam ter sido
Orgulho horrendo o arrasta
Mas lama é sobre mim que habita.